24. Sem Palavras, Sem Silêncio
UM MONGE perguntou a Fuketsu: “Sem falar, sem silêncio, como você pode expressar a verdade?”
Fuketsu comentou: “Eu sempre me lembro da primavera no sul da China. Os pássaros cantam em meio a inumeráveis tipos de flores perfumadas.”
Sem revelar sua própria penetração,
Ele ofereceu as palavras de outro, sem dar as suas.
Se ele continuasse a tagarelar sem parar,
Até mesmo seus ouvintes teriam ficado envergonhados.
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Um comentário:
Cada koan... uma reflexão, quem sabe um achado? Ele age para mim como um despertador... me recordo do trechinho de um livro que diz algo mais ou menos assim: “É indispensável que haja alguém para despertar o adormecido; é necessário ter despertadores.” Com certeza depois deste pequeno koan pude jogar mais luz à meus questionamentos, me senti nutrida e senti a paz.
Ao falar dele me recordo de uma poesia e penso em uma analogia: como se pode passar para alguém o sentimento de um beijo apaixonado? Todas as palavras do mundo podem falar disso mas nenhuma nos trará esse sentimento, e mesmo que uma pessoa nunca tenha se apaixonado ou nunca tenha beijado ela poderá imaginar isso..e essa imaginação será só sua, fruto de seus percursos e cada um irá imaginar à sua maneira.
O mais precioso para mim foi poder reviver novamente a idéia da dinâmica da vida, do não estável que se sustenta a si mesmo. Cada instante é único e cada pessoa trás sua visão...que também é única. Cada ato, cada sentimento, cada vivenciar é uma experiencia singular... vivemos em um mundo de singularidades compartilhadas onde cada um quer que a sua visão seja a “mais correta”... é difícil haver entendimento.
O futuro é uma possibilidade e vivemos muitas vezes só pensando nele, ou imersos num passado que já não existe...deixamos o presente passar como algo sem importância...Não existe nada e ao mesmo tempo tudo está aí. Nesse universo de possibilidades permeado pelas nossos pontos de vista podemos nos deixar à deriva sem contudo perder o sentido norteador...é como boiar num imenso oceano... se não brigarmos com a água ela pode nos sustentar mas se tentarmos agarra-la afundamos...a entrega pode ser feita usufruindo a vida de uma forma simples e natural, mas para isso temos que aprender a conviver com o desapego do controle e desconstrução de nossos paradoxos e mentalidades sem contudo deixarmos de te-los junto à nos...
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