quinta-feira, 26 de março de 2009

23. Não Pense no Bem, Não Pense no Não-Bem.


QUANDO atingiu a libertação, o sexto patriarca recebeu do quinto patriarca a tigela e a veste dadas pelo Buda aos seus sucessores, geração após geração.
Um monge chamado E-myo, por inveja, perseguiu o patriarca com o propósito de tirar-lhe este grande tesouro. O sexto patriarca colocou a tigela e a veste sobre uma pedra na estrada e disse a E-myo: “Estes objetos apenas simbolizam a fé. Não faz sentido lutar por causa deles. Se você deseja tê-los, leve-os agora.”
Quando E-myo tentou mover a tigela, e a veste, elas estavam tão pesadas quanto as montanhas. Ele não pôde mexê-las. Tremendo de vergonha, ele disse: “Eu vim querendo o ensinamento, não os tesouros materiais. Por favor, me ensine.”
O sexto patriarca disse: “Quando você não pensa no bem e quando você não pensa no não-bem, qual é o seu verdadeiro eu?”
Com estas palavras E-myo iluminou-se. O seu corpo inteiro começou a transpirar. Ele gritou e curvou-se respeitosamente, dizendo: “Você me deu as palavras e os significados secretos. Há ainda uma parte mais profunda do ensinamento?”
O sexto patriarca respondeu: “O que eu lhe disse não é, em absoluto, nenhum segredo. Quando você realiza o seu eu verdadeiro, o segredo pertence a você.”
E-myo disse: “Estive sob a orientação do quinto patriarca muitos anos, mas não pude realizar o meu eu verdadeiro até agora. Através do seu ensinamento eu encontro a fonte. Uma pessoa bebe água e sabe, por si mesma, se a água está fria ou morna. Posso chamar-lhe de meu instrutor?”
O sexto patriarca respondeu: “Estamos juntos sob a orientação do quinto patriarca. Chame a ele de seu instrutor, mas guarde com carinho o que você alcançou.”


Você não pode descrevê-lo, você não pode retratá-lo,
Você não pode admirá-lo, você não pode senti-lo.
É o seu verdadeiro eu, ele não pode esconder-se
Em lugar algum.
Quando o mundo for destruído,
Ele não será destruído.

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Um comentário:

Letícia disse...

“Como pode ser pesado tentar ser quem, ou o quê não se é...”
“... E como é complicado, em uma sociedade que dá tanta importância às aparências, abrir mão do personagem, como fim em si mesmo, para ir em busca do verdadeiro eu...”
Foi assim que começamos a nos enveredar por esse Koan. O poder, a autoridade, a sabedoria não se encerram em coisas, acontecimentos, ou posições. Só se pode vivenciá-los verdadeiramente quando esses atributos são conquistados e apropriados internamente. O exercício público deles, assim como o uso de emblemas que socialmente conferem poder, são apenas uma parte de sua existência.
Qual é o “verdadeiro eu”? Ele não pode ser confundido com o “ego” – essa forma de se perceber cheia de julgamentos e pretensamente desconectada da unicidade, do zen. “O Eu não pode ser definido por suas partes. O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe. E, não existindo, ele existe” (24/10/08 – Anexo do Koan 08). É a cara que se tinha antes de nascer... É o ser desprovido de julgamentos e ponderações. Por isso mesmo, a sua descoberta é íntima, pessoal. Os mestres são facilitadores nesse caminho, mas não podem dar a percepção. E só se pode alcançá-lo quando estiver livre até mesmo do desejo de compreendê-lo.