quinta-feira, 16 de outubro de 2008

08. A Roda de Keichu

GETSUAN disse aos seus estudantes: “Keichu, o primeiro fabricante de rodas da China, fez duas rodas com cinqüenta raios cada uma. Ora, suponhamos que vocês retirem o cubo que prende os raios. O que sobraria da roda? E se Keichu tivesse feito isto, ele poderia ser chamado de o mestre fabricante de rodas?”


Quando a roda sem cubo gira,
O mestre ou mestre nenhum pode pará-la.
Ela gira acima do céu e abaixo da terra,
Sul, norte, leste e oeste.

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4 comentários:

Regina disse...

Pensando neste koan 'com a barriga', deparei-me com outro semelhante. Transcrevo-o abaixo para vocês:

O rei, sabendo que um grande mestre Zen estava às portas de seu palácio, foi até ele para solucionar uma velha questão.
"Mestre, onde está o Eu?", perguntou o rei.
O mestre pediu que os guardas trouxessem uma carroça.
"O que é isso?", perguntou o mestre.
"Uma carroça", respondeu o rei.
O mestre pediu que retirassem os cavalos que puxavam a carroça.
"Os cavalos são a carroça?", perguntou.
"Não", respondeu o rei.
Depois, o mestre pediu que as rodas fossem retiradas.
"As rodas são a carroça?"
"Não, mestre", disse o rei.
O mestre pediu que retirassem os assentos.
"Os assentos são a carroça?"
"Não, eles não são a carroça", disse o rei.
Por fim, o mestre apontou para o eixo da carroça.
"O eixo é a carroça?", perguntou.
"Não, mestre, os eixos não são a carroça", respondeu o rei.
"Assim como a carroça, o Eu não pode ser definido por suas partes. O Eu não se encontra em parte alguma. Ele não existe. E, não existindo, ele existe", disse o mestre.
[Pacheco B. Pocket Zen: 100 histórias budistas para meditar. Rio de Janeiro: Record: Nova Era, 2004.]

Depois de ler este segundo koan, percebi melhor o que havia sentido imediatamente após a leitura do primeiro. Pensei naquele momento inicial: nossa, as partes do todo são muito importantes, mas a retirada delas parece que não desmancha a idéia do todo, que coisa é essa?!
Em seguida, o grupo trouxe a imagem do bambolê e eu me expressei dizendo que 'só quando a gente é criança que consegue rodar o bambolê, depois fica muito difícil'. Hoje percebo que o meu sentimento nesta hora era que enquanto criança nós somos inteiros e por isto mesmo é fácil nos tornarmos um com o mundo. A criança e o bambolê, assim como o arco, o alvo e o arqueiro Zen, não se opõem porque estas criaturas estão desprendidas de si mesmas.
Isto tudo me fez pensar que a nossa grande meta é mesmo buscar "a cara que a gente tinha antes de nascer".

Cristina disse...

Também já discutimos este koan, com uma narração diferente:
"Keichu fez cem carroças
Se você tirasse as rodas
E removesse o eixo,
Então o que seriam?"

Olhando para os dois koans, me lembrei de que é preciso deixar que as coisas sejam como são. Vazio e não vazio, não se separam e sempre serão unos, pouco importa a forma que tomem. Somos todos e tudo compostos de uma mesma unidade básica, átomos, quantum de energia, o que muda é apenas a forma. E tantas mutações ocorrem, na mais pura e verdadeira impermanência - ora temos varetas, hora temos vazio, ora nada temos, mas sua essencia básica permanece intacta. Mesmo sem ver, mesmo alterada, ainda é uma roda...

Unknown disse...

Para mim, em um primeiro momento, a roda precisa dos arcos e de seu eixo, para que possa ser roda. Assim, não podemos separar as partes e, sim, devemos considerar o todo. Fazendo uma analogia da roda com a roda da vida,várias coisas vieram para mim.
Primeiro, que somos compostos por várias partes, e possuímos um eixo que possibilita a troca entre elas de forma equilibrada.
Segundo, que as partes não existem de forma isolada e só cumprem sua função quando se relacionam com uma finalidade comum. Assim como a sangha, onde as pessoas falam aquilo que sentiram e surgem perspectivas diferentes que nos possibilitam ter uma visão mais ampla do todo. Os pontos de vista diferentes possibilitam uma ampliação da consciência. Todos caminham juntos rumo ao crescimento.

O eixo para mim representa aquilo que me sustenta, a minha força, o meu equilíbrio, o que realmente sou em essência. Preciso do meu eixo para me relacionar com o Universo.

Angela disse...

"Trinta raios sustentam o eixo de uma roda,
sirva-se da roda, mas é o Vazio do seu eixo que torna possível o uso.
Modele uma massa de argila numa vasilha
sirva-se da vasilha para utilizar o Vazio do seu bojo.
Abra portas e janelas nas paredes de uma casa
Sirva-se da casa para utilizar o Vazio de seu interior.
O Homem serve-se da forma para utilizr o Vazio". (Dao De Finy)

..."É o Vazio de substâncias que preenche todas as formas de manifestação.
É no mundo da não forma, do Vazio, que consiste a transcendência do Sujeito e Objeto, a dualidade.
O Vazio não significa ausência ou não existência, está pronto para tudo, é a vacuidade que brota a criação e a existência. A existência e o vazio existem e não existem.( Essência da Meditação/ Jou Jia; Lilian Takeda; Norvan Leite)