quinta-feira, 4 de setembro de 2008

03.O Dedo de Gutei

Gutei levantava o seu dedo sempre que lhe faziam uma pergunta sobre o Zen. Um menino assistente começou a imitá-lo nesse gesto. Quando alguém lhe perguntava o que o seu mestre havia ensinado, ele levantava o seu dedo.
Gutei soube da travessura do menino. Ele o pegou e cortou seu dedo. O garoto chorou e saiu correndo. Gutei o chamou e o fez parar. Quando o garoto virou sua cabeça para Gutei, este levantou o seu próprio dedo. Naquele instante o garoto se iluminou.
Quando Gutei estava para deixar este mundo, reuniu seus monges ao seu redor. “Alcancei o meu Zen do dedo”, disse ele, “a partir do meu instrutor Tenryu, e em toda a minha vida, não pude esgotá-lo.” E morreu.


Gutei diminui o ensinamento de Tenryu,
Emancipando o menino com uma faca.
Comparado ao deus chinês
Que empurrou uma montanha com uma mão
O velho Gutei é um imitador barato.

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5 comentários:

Letícia disse...

Parte 1 – Entre a barriga e a cabeça
Experimentei com esse koan, de forma muito clara e distinta, o sentir e o pensar. Coisa maluca... Minha barriga pensava e minha cabeça argumentava tentando me apaziguar.
Dizia a primeira no auge da irritação: - que metodologia é essa que corta no “outro” o dedo que, enxergando em si, não consegue cortar? A segunda, ponderava: - Letícia... você sabe que é assim! Os grandes aprendizados vêm com podas. Quantas vezes você não se sentiu mais inteira e integrada depois de ter seu dedo cortado?
- Mas, diante do mestre havia um “menino” e uma “travessura”. Precisava que lhe cortasse o dedo?
- Mas você sabe quem é o mestre, você conhece o menino e sabe onde esta travessura pode dar. Além do mais... “o garoto se iluminou”! Esse argumento não lhe parece suficiente...
- ok. Então... qual é o dedo que deve ser cortado?
- Essa é uma pergunta importante...

Olha... essa conversa está rendendo...
Haverá síntese no momento em que, além do reconhecimento de que das perdas importantes vêm aprendizados fundamentais, esse for incorporado e fundido ao ser que compreende.

Letícia disse...

Parte 2 – Sincronicidade
Na manhã de quinta (4/9), me deparei com a seguinte frase de C. Jung:
“Todos nós nascemos originais e morremos cópias”.

Achei que tinha a ver com: “O cachorro de Joshu” (está postada lá). Essa frase/Koan merecia ser discutida mais amplamente, vocês não acham? Tem pano pra manga aí.

Ricardo disse...

Li num livro ("O sucesso está no equilíbrio"- Robert Wong) uma citação de que "é a imitação que nos torna humanos". Os animais, mesmo quando estão ensinando seus filhotes a voar ou a caçar, simplesmente os empurram para a vida. Quando imitamos alguém, algo é transferido entre quem é imitado para quem imita. Esse algo que é transmitido por imitação é chamado de "meme". Os "memes" são uma unidade de transmissão cultural, capazes de se transmitir por imitação. Ou seja, as pessoas evoluem culturalmente quando captam e retransmitem uma idéia, um comportamento ou uma informação.
Será?
Ricardo

Teresa disse...

Ricardo:
Interessante o que diz...mas uma vez que há imitação de hábitos, será que isso também não ocorre através da mídia com hábitos ou idéias que interessam? e o que nos torna humanos pode nos tornar desumanos também... fica a pergunta, a dúvida e o medo da resposta...
Teresa

Teresa disse...

Aprecio muito os koans porque os sinto como chaves, como simbolismos que nos ajudam a decifrar à nós mesmos através deles...mas percebo que é necessário TENTAR estar alerta e talvez liberto...liberto de nossos preconceitos, de nossas amarras, de nossos “achismos” e tudo o mais que nos leva à direções pré determinadas...e isso eu acho o mais difícil..pois o que será do navio sem as amarras do cais? Poderá se sentir como à deriva num imenso mar aberto..mas se esse navio tiver um motor próprio (iluminação) poderá seguir destinos e cumpri-los...estando em harmonia com a imensidão...

O dedo de Gutei me mostrou que podemos ensinar/aprender de formas diversas, há vários caminhos e muitas chaves mas talvez um ponto de chegada onde tudo se unifica.
Me trouxe a sensação de que se o discípulo está pronto o mestre aparece...e me fez sentir muito animadamente que não temos que procurar grandes mestres, acredito que existam mas são raros...e todos...todos os seres humanos ditos “comuns” podem chegar à grandes entendimentos através das pequenas observações da vida, nas lições da natureza, do desenvolvimento da intuição, da escuta de si mesmo e da sensação de uma energia maior... e que poderemos ter insights... ora pequenos... ora grandes que nos farão tecer teias e elas nos farão um constante suporte para novas abrangências e novos saberes....para se aprender é necessário estar alerta e abertos cultivando serena e humildemente a arte de apreciar o que nos é revelado em abundância...penso que mudamos de lugar constantemente...um dia podemos ser mestres e nos outro aprendizes...