A sede
Um iluminado hindu se encontrava em “estado de orgasmo” ininterruptamente há mais de duas semanas, num mosteiro zen.
Um jovem monge recém-admitido entre os andarilhos-pedintes -uma espécie de “ordem” tão rigorosa que era incapaz de aceitar até mesmo os mais famosos Mestres, justamente porque eram famosos e isto, segundo eles, constitui sério empecilho-, pois o jovem pediu permissão para uma viagem, com o exclusivo propósito de conhecer o monge em gozo orgásmico há duas semanas seguidas.
Disse o jovem ao mestre:
– Seguirei anônimo e voltarei ainda mais anônimo – comunicou ao Mestre, acrescentando que, desse modo, provavelmente arrancaria do iluminado monge o segredo de seu espantoso orgasmo.
– E para que aspiras a tamanho orgasmo, jovem? – perguntou-lhe o superior, com um rir de olhos que era pura malícia e ainda a mais pura sabedoria.
– Ora, Mestre, e alguém por acaso não o desejaria?
– O iluminado hindu, ele já não o deseja mais...
– Como assim? – perguntou o jovem.
– Há mais de três dias que o monge faleceu para esta encarnação.
– Morreu? De quê?
– De sede. Ninguém fica duas semanas sem beber água...
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