50. O mendigo e a voz
O monge chegou a tal estado de devota mendicância que desejou não mais ter voz. Quando necessitasse dela a mendigaria ao primeiro passante. E assim permaneceu por quase duas semanas. Para tudo, usava as mãos e os gestos.
Houve, contudo, o dia em que o monge-mendigo precisou da fala para recitar um antigo mantra búdico, e que só podia ser rezado de viva voz. Não hesitou e acercando-se de um velhinho que passava pela rua, com a mão na garganta fez entender que precisava falar.
– Falar?... – titubeou o ancião, a voz fraquíssima.
– Sim, falar, meu mestre ... – pediu o destituído monge-mendigo – a voz própria, forte e tonitruante.
Sem nada entender, o ancião encerrou a conversa:
– Mas pra quê, meu filho, se tens voz de sobra?
– Eu não tenho voz, mestre. Eu só tenho é um som forte e arrogante que me sai do fundo da garganta.
– Acredito... – assentiu, confuso.
LEVEM AS PEDRAS...
Era uma montanha a ser escalada, subida dura e difícil...
Eles sabiam, todavia, que alcançar o cume seria a consagração para suas vidas.
Já na saída, o mestre os advertiu:
Levem as pedras... Ao chegarem no alto da montanha sentirão muita alegria pelas pedras que levarem, mas também sentirão muita tristeza ... Ficaram sem entender, inclusive porque a advertência se repetiu mais duas vezes...
Prudentes, resolveram seguir o conselho...
Alguns encheram os bolsos, outros carregaram pequenas pedras em uma das mãos, outros colocaram o que foi possível nas próprias mochilas, outros improvisaram sacos e aumentaram o próprio peso da bagagem; outros acharam aquilo uma grande bobagem e nada levaram...
Foram diferentes reações ao conselho e, obviamente, divergentes quantidades de pedras carregadas morro acima, variáveis em peso, quantidade e tamanho...Durante a escalada, muitos descartaram o peso que concluíram ser desnecessário na árdua subida, outros tomaram a mesma providência, só que parcialmente e uma minoria manteve a carga original...
Cada um teve seu momento de chegada, face aos esforços e rumos diferentes, mas no alcance do topo, a surpresa confirmava a estranha advertência ouvida...
As pedras se transformavam em pérolas que irradiavam vida...
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